quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Líderes religiosos frisam importância do combate à intolerância

No
Dia de Combate à Intolerância Religiosa, convite é para o
conhecimento e respeito recíproco a fim de estabelecer a paz em meio
à diferença

Jéssica
Marçal

Da
Redação
Líderes do catolicismo, budismo, islamismo e judaísmo juntos no vídeo do Papa sobre diálogo inter-religioso / Foto: Reprodução do Vaticano
Líderes
do catolicismo, budismo, islamismo e judaísmo juntos no vídeo do
Papa sobre diálogo inter-religioso / Foto: Reprodução do Vaticano
O
Brasil celebra nesta quinta-feira, 21, o Dia Nacional de Combate à
Intolerância Religiosa. A data foi instituída com a Lei 11.635, de
27 de dezembro de 2007, para combater atitudes descriminatórias no
que diz respeito à religião.
Embora
não pareça, em pleno século 21 ainda há pessoas que são
discriminadas, ofendidas, feridas e até mesmo mortas por causa de
sua religião. Em 2014, o Disque 100, da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República, registrou 149 denúncias de
discriminação religiosa no País. Em 2015, a média foi de uma
denúncia a cada três dias sendo reportadas ao órgão. Em âmbito
internacional, às vésperas da celebração da data, um 
relatório
sobre a violência anticristã na Índia
 revelou
que mais de 200 casos desse tipo foram registrados no país.
Segundo
o rabino Michel Schlesinger, da Confederação Israelita do Brasil
(CONIB), a humanidade aprendeu muita coisa nos últimos milênios,
mas a intolerância religiosa continua sendo uma realidade, com atos
de fanatismo que colocam em risco a vida das pessoas. Diante disso,
ele acredita que, mais do que nunca, celebrar uma data como essa é
uma obrigação. “Nós não precisamos convencer uns aos outros de
que temos a razão e estamos certos, precisamos permitir que cada um
tenha a sua fé, a sua crença e a pratique com toda a liberdade
possível”.

Tolerância

Para
a Igreja católica, tolerância é muito mais que “suportar” o
outr. “É ser capaz de acolher o diferente, conviver, respeitar e
naquilo que temos em comum, caminhar juntos! A intolerância e
violência religiosa está em absoluta contradição com qualquer
religião, digna desse nome!”, declara o assessor da Comissão
Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da
CNBB, padre Marcus Barbosa Guimarães.
Um
exemplo dessa acolhida ao diferente e convivência fraterna foi dado
por São João Paulo II, conforme recorda o padre João Firmino, da
arquidiocese de Brasília (DF). Enquanto era Papa, o santo convidava
pessoas de outras denominações religiosas para um encontro em
Assis, na Itália, a fim de celebrar a paz e vivenciar um momento de
oração comum, cada um do seu modo.
Em
Assis porque lembrava o exemplo de São Francisco de Assis que é tão
querido, visto, amado e conhecido pelas diversas religiões e
pessoas. Então a gente vê a figura do Santo Padre que nos convida a
isso, a vivenciar, já nos convidava”, comenta padre Firmino.
E
o próprio sacerdote dá testemunho pessoal desse conceito de
tolerância e fraternidade. Um de seus melhores é um pastor
evangélico, com quem ele já chegou a dividir a mesma casa. “Nós
nos conhecemos há muito tempo, às vezes quando estou com dúvida de
alguma coisa eu dou uma ligadinha para ele e falo ‘como é que você
vê isso?’, às vezes ele também me liga, a gente convive muito”.

Exemplo
no judaísmo

No
judaísmo, rabino Michel explica que a própria religião foi
construída na base do debate. O principal livro do judaísmo depois
da Torah é o Talmud, que é um livro de discussões e a maior parte
delas fica em aberto. Assim o judaísmo contribuiu e pode continuar
contribuindo para um mundo com mais diálogo, diz.
O
judaísmo, da maneira como eu entendo é uma religião, na sua
origem, bastante polifônica (…) Temos que ter a humildade de que
ninguém é detentor de toda a sabedoria, de toda a verdade, de todo
conhecimento, só Deus. Tudo o que nós sabemos é um pedacinho, uma
parcela e a parcela de um deve complementar a parcela do outro”.

O
vídeo do Papa



Nesse
mês de janeiro, o Papa gravou um vídeo em que aparece junto a
líderes do catolicismo, judaísmo, budismo e islamismo para pedir
orações pelo diálogo inter-religioso. Todos eles repetem a frase
“Creio no amor”.





Rabino
Michel contou que ficou muito feliz com a iniciativa do Papa, mas não
surpreso, pois conhece o Papa e sabe que essa é a sua linha. Desde
que Bergoglio foi eleito Papa, o rabino já se encontrou com ele em
quatro ocasiões. “O Papa Francisco realmente é um homem de
diálogo (…) esse vídeo é coerente com a biografia de diálogo do
Papa Francisco”.


O
tema do diálogo inter-religioso é uma constante nos discursos,
homilias, ações, orações e gestos do Papa Francisco. Com suas
palavras, o Papa Francisco recorda-nos que orar e empenhar-se pelo
diálogo ecumênico e inter-religioso faz parte integrante da missão
evangelizadora da Igreja”., acrescenta padre Marcus.

Passos
para a tolerância na sociedade

Olhando
para o futuro, rabino Michel acredita que a solução para os casos
de intolerância religiosa está na educação. “Se a gente puder,
nas escolas, muçulmanas, cristãs, judaicas, e também naquelas que
não são religiosas, preparar as nossas crianças e os nossos jovens
para um mundo complexo, em que diversas verdades coexistem, então a
gente está dando um passo mais significativo para construir um
amanhã de diálogo”.
Padre
Marcus indica três passos: buscar o conhecimento verdadeiro do
outro, voltar-se para Deus e nunca abandonar o caminho do diálogo.
“A estrada do diálogo foi e será sempre o caminho da Paz
verdadeira, da Vida plena e da experiência concreta da
Misericórdia”.


Além
de conhecer o outro, padre João Firmino também acredita na
necessidade de respeito, para consigo e para com o próximo, para que
a tolerância possa brotar. “Se eu consigo respeitar essa figura
dentro da minha família, no ambiente em que eu convivo, eu vou fazer
com que o mundo se torne cada vez melhor. Então que possamos ter no
coração esse desejo, de vivenciar a paz e respeitar a si mesmo,
respeitando também o outro”
Fonte: Canção Nova

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